domingo, 29 de agosto de 2010

Prossiga, prossiga...

Eu digo a você que vá embora de uma vez. Que nada tenho a dar, que já não lhe tenha dado mais de uma vez. Todo meu afeto, toda a paciência, toda a compreensão, o amor próprio, a tolerância. Nada tenho a dizer que não tenha dito mais de uma vez. Que não tenha tornado atrás tantas outras.
Não há nada nessa vida que prenda você comigo. Nada em mim que me faça ter prazer em permanecer consigo.
Vá-se embora de uma vez. Que nada tenho a negar que tantas vezes já cedi.
Tudo isso já se gastou e tem tanto tempo, que não adianta vir de novo, cutucar pra ver se sai, pra ver se leva, pra ver se ainda tem de onde tirar.
Vá, vá embora, que não dá pra voltar atrás.
Cansei de te ver repetir sempre as mesmas palavras. Cansei de fingir não lê-las e não ouvi-las pra não destilar contra ti o que ficou de impressões.
Não te despejo raiva, ódio, rancor, mágoa, tristeza nem saudade, porque tudo isso já foi gasto.
Nem há nada engasgado a ser dito. Nem ha nenhuma mágoa. Nada sobrou, tudo tudo tudo já foi gasto até a raiz.
Vá-se embora de uma vez, que nem mágoa eu tenho. Nem saudade, nem tristeza, nem pena, nem cuidado. Vá, que tudo que um dia destilou-se do amor já foi usado.

Vá-se embora de uma vez, digo e repito. Porque se você está aí, nem tenho mesmo notado.

E eis a pior coisa que posso dizer, que enfim digo, porque não vejo mais como me livrar dessa sombra do passado: Não tenho nada a dar. Nem amor, nem dor, nem pena, nem cuidado. Nada que antes não tenha sido completamente utilizado.

Nem memórias, nem canções, nem lembranças do passado. Nada ficou.
Raspou-se (e faz tempo) o fundo do tacho.

Há um bom tempo eu sou feliz. Há um bom tempo penso em mim, penso em alguém, penso em horizontes que o amanhã me tem guardado.

E somente o que restou, eu dou agora, pra que nunca mais seja preciso repetir:
Essas palavras.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Sei lá....

Tenho laços tão seguros
tão firmes, como fios
de tecelão habilidoso
tenho laços tão vazios.

Vazios que num repente
Se desfazem, se esvaem
Mas se esvaindo em si me levam
Nos farrapos que deles caem.

Esses laços quedos apanho
E em nós costuro a mitral.
Finalizo meu tecer rústico
com cimento, areia e cal.

E misturando os argumentos
Como quem inventa uma outra poesia
Não escolho matéria a compor
E se pudesse, não o faria.

Assim vou eu, entre cimento e nós.
Costurado meu cardioelemento,
Inverto a rima, reinvento o tormento,
E sigo, caminho torto, a sós.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Rasteiro

Meu cantar é sereno e obscuro Renato e profundo, impuro Rasteiro por caminho, sem lei A prosear com a folhagem, o vento A vilipendiar o tormento Servindo a si feito um rei Meu andar doido salteia Verifica na vida alheia Que não tem par com ninguém Que anda desajustado e sem veia A alardear na aldeia Que nunca achará, mas procura seu bem Meu olhar é negro e profundo Alternado feito viramundo Não pára em ponto qualquer Não se prende a chorar desarnado Nunca se dá por vencido e frustrado É duro igual todo olhar de mulher Meu coração a pulsar anda aflito Preso no peito, ouço o grito Do inocente que deseja ser tudo. Mas açoito esse doido e digo: Cresce, menino, cachorro, mendigo! Nada é pra ti, louco, cego, mudo.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sem roupas

Quero sempre poder falar sem cobertas, sem roupas, sem meios termos. Quero sempre ser clara, límpida. Aquilo que se vê.

Sem rodeios, sem devaneios, sem ilusões.

Quero ser plena, e estou correndo pra isso.

Queria tanto poder dizer, sem meios termos, tudo que sou, tudo que sinto e tudo o que penso. Sobre mim, sobre ele, sobre você. Sobre nós.

Queria mesmo. Há tanto coisa em mim precisando sair, precisando se libertar, ardendo pra voar.

Essa coisa de viver, essa plenitude de ser, me impele a me jogar.
Uma vez eu escrevi sobre a pessoa que habitava em mim e queria sair, sabe?

Desde que você chegou, ela desencadeou num processo de escapar que eu não posso mais conter, sabia? Ela desejou muito, muito, ser o melhor, dar o melhor de si, não cometer erros passados, não se esconder. Ser plena de si. Talvez assim, ela me dizia, eu merecesse você.

Ela mentiu pra mim, disse que só viria até os olhos pra te ver. Pra ver os seus olhos. Só viria até o nariz pra te sentir o cheiro, só viria até a boca pra sentir teu hálito.

Mas ela não quer mais voltar lá pras vísceras. Ela agora vive me impelindo, me jogando pra frente.

Ela quer, ardentemente, viver. Que seja com ou sem você, porque ela sabe que não pode obrigar ninguém à reciprocidade. Ela entende tanto isso que se ri.

E eu também, rio com ela.
Ela é plena, e eu sou resignada. Mas ela voa, e me carrega com ela.
E acho que é precisamente ela que queria te contar meus segredos. Eu mesma, quando te encontro, nem sei o que dizer.

Dã dã dã

Eu queria te contar quem eu era desde que nasci. Queria que você soubesse cada passo que eu dei; cada vez que caí, cada outra que levantei. Eu sou assim mesmo, sabe? Minhas dores passam rápido, eu nunca me permiti sofrer mais do que deveria. E sempre acho que não devo sofrer nadinha. Mas isso não quer dizer que eu não queira, não quer dizer que eu não me importe, não quer dizer que eu nada sinta. Não é de estar explicando, é que as pessoas são assim, mesmo. Elas duvidam se você não grita. É como aquela música do Fagner que eu gosto: "Se eu berrar sem sofrer, todo mundo escuta." Eu sempre procuro deixar claro quem eu sou, o que eu quero, que eu amo, porque eu amo muito mesmo. Outro dia me disseram que o amor se banalizou. Que se diz que ama sem ter valor algum. Mas eu acho amar tão fácil. Amar sem esperar retorno, sem esperar nada em troca. Então, eu acabo amando mesmo muita gente. E fácil, facinho. Amo num relance. E não passa, segue comigo. Amo tanto, e tanta gente. Amo até as pessoas que passam, na rua. Acho-as, por vezes, tão solitárias, que não me custa amá-las. Sempre fui de sentimentos fáceis. Sempre deixei de lado os rodeios e abracei o que queria, despudoradamente. Falante, ousada, insólita. Nunca fui tangente. Sou de uma imprecisão absurda. Meu toque é leve, mas é irregular. Minhas linhas sempre saem tortas. Mas são transbordantes de poesia. E eu não sei querer pouco, eu sou o exagero, eu quero todas as coisas. Todas pra mim, sem ter que possui-las, entende? Elas me pertencem tanto quanto vivem livres por ai. E eu sempre fui assim, desde pequena. E eu desejei firmemente todas as coisas do mundo. Não que todas elas fossem minhas, mas que todas o fossem; verdadeiramente e de fato. Porque essas coisas, que são a si mesmas, tornam minha vida real. Desejei firmemente que seus olhos pequenos e claros ficasse firmes nos meus. Que tantas verdades parcialmente ditas se tornassem frases claras, pensamentos lineares e absolutamente, eternas. Desejei mais que podia dar, eu sei. Mas fui profundamente eu. Sempre, a cada momento.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Mais uma canção

Cabeça cheia de trabalho, planos (alguns já em prática), exames e estudos.

Até gostaria de escrever, mas o pouco tempo que me sobra é dedicado a... dormir! É, eu durmo...

Tenho dormido até demais... Mas sei que vai passar, é questão de um ou dois comprimidos.

Pausa de dois minutos no trabalho pra esfriar as engrenagens e pensar em alguma coisa fora do trabalho, ao providencial som de:

Mais uma Canção - Los Hermanos

terça-feira, 17 de agosto de 2010

De Photoshop a Bishop

The art of losing isn’t hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn’t hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother’s watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn’t hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn’t a disaster.

–Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan’t have lied. It’s evident
the art of losing’s not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Quando o Carnaval Chegar

De Chico.

"Quem me vê sempre parado,
Distante garante que eu não sei sambar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu tô só vendo, sabendo,
Sentindo, escutando e não posso falar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

(...)


E quem me vê apanhando da vida,
Duvida que eu vá revidar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu vejo a barra do dia surgindo,
Pedindo pra gente cantar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar

Eu tenho tanta alegria, adiada,
Abafada, quem dera gritar...
Tô me guardando pra quando o carnaval chegar..."

domingo, 15 de agosto de 2010

Remember me

"Whatever you do in life will be insignificant, but it's very important that you do it. Because nobody else will. Like when someone comes into your life and half of you says you're nowhere near ready, but the other half says: make her yours forever."

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Saudade

De repente você só se dá conta que alguém faz falta quando tem a oportunidade de se saber sem ele. Quando alguém que você quer bem sai, sobretudo quando a saída é sorrateira, ou suave, ou triste, você sente um vazio que vai se instalando, a princípio, sem motivo aparente. Como naqueles dias em que você não tem nada a fazer, e está no ócio, e pode jurar que está esquecendo alguma coisa muito importante, e sente aquela queimação no peito, sem identificar a razão. Ou quando você faz algo, mesmo que mínimo, e sua consciência fica te acusando, antes de dormir. Você se sente o réu, mas não sabe bem qual foi o crime.... Depois, você procura dos lados e não está lá. Você queria dizer pra ela (a pessoa) que isso está acontecendo: não dormi bem essa noite, acho que comi algo que me fez mal. E depois seus pensamentos se voltam pra suas atividades. Entretanto, hora ou outra, você lembra da pessoa, num vislumbre, num repente. A voz vem no ouvido sem, no entanto, vir. A imagem vem na mente, sem que você a veja em lugar algum. A risada, as conversas. Mas logo você esquece, tem atividades 'hodierníssimas' pra resolver. E quando algo inusitado acontece, você pensa: Vou contar pra ela assim que a vir. Seja o mais ínfimo dos acontecimentos... Quando você discute com o caixa do supermercado, quando você vê uma batida no trânsito, quando teu professor fez uma piada que ninguém riu e você ficou com pena e riu pra ser solidário. O pensamento sempre vem: ela vai rir ao saber dessa. Ela vai xingar o cara junto comigo, pra ser solidária. Vai dizer que a razão era minha e que ele era mesmo um pateta. E que ela xingaria a vó dele quando o encontrasse por aí. Os vídeos do Youtube, as propagandas na TV, o casal famoso que se divorciou na boate aos tapas. Os gols da segundona. E, sem se dar conta que a saudade estava surgindo discretamente, você percebe que algo está faltando. Até se dar conta do que é, demora. Até perceber que é dela, demora. Então tem aquela hora, aquela hora típica, em que todos os dias você a via. Ou ouvia a voz dela. Ou contava coisas pequenas do seu dia, que não fazem diferença pra ninguém, mas ela gostava de contar e ouvir. E rir, e te devolver outras histórias dela. Nessa hora, a ansiedade vem, o peito arde. Você espera, espera, espera... Em vão. Espera, mesmo sabendo que ela não virá. Sem expectativas, mas com uma tímida esperança. E você se pergunta: Cadê? É uma vontade inequívoca de trazer as coisas ao que eram antes. Antes de ela não estar ali. Antes de tudo mudar. Mesmo que não haja como. Algumas vezes há, outras não. Às vezes, ela só foi ali. Demorou dois dias. Mas a saudade não tem o discernimento de saber a diferença. Mesmo que vá ali e demore a voltar, mesmo que seja alguém com quem você só fala, e não vê, mesmo que seja alguém que você sabe onde foi e por quê. Mesmo que você provoque a ausência, por bem ou por mal, por descuido ou por poesia, por coragem ou covardia... E você a queria perto, pra mais do que fazia antes, porque agora você entendeu que está com saudades, e que saudade é um indício de que ela faz parte de você, e você precisa um pouco dela pra viver. Seja como for. Porque nós somos mesmo extremamente egoístas. Até o mais altruísta dos homens é, por natureza, zeloso de si. E sentimos falta do que faz parte de nós, do que nos constrói. Do que somos. Então você quer ela ali, segura, ao seu lado, garantindo o seu bem-estar. Matando aquele bicho corroento que perturba seu sono. Das duas uma: ou ela volta, com um saco de pães quentinhos na mão e um sorriso no rosto. E tudo reestabelece seu equilíbrio. (E quando isso acontece, das duas uma: iu você entende que precisa dela, dá-lhe um abraço apertado sem que ela entenda por que e procura fazer tudo aquilo que antes ela pedia, ou queria e você não queria corresponder, ou fazer.... Ou então, tudo volta a ser exatamente o que era antes. E você esqueceu que um dia sentiu saudade. Ela é uma parte de você, apenas. Como um braço, como um dedo. Como uma unha. E só se ela se ausentar você vai notar de novo.) Ou a outra: Ela não vem nunca mais, e nunca mais nada volta a ser como era antes. Ou ela vem, mas nada é mais como era antes. Ela veio diferente. Como o astronauta de mármore. Voltando mais pura do céu. Não é, de longe, a mesma pessoa. E daí, você sente, dói, e depois passa. Às vezes demora, às vezes é ligeiro e fulgaz. Às vezes dói feito cair o elevador, de uma vez, imensamente forte e única. Ou às vezes chove o ano inteiro a chuva fina. E você não tem mais a oportunidade de fazer tudo aquilo que procrastinou, em prol de vê-la mais feliz. E o mundo segue seu percurso, até que não doa mais. Até seu arranhão estar sarado, com ou sem cicatriz. Até sua ferida funda estar cauterizada, com uma cicatriz que dói nos dias frios. Mas eu espero que ela volte. Prometi que nunca mais declinaria seus convites. Espero, então que ela volte pra mim. Sei que voltará mais pura do céu. Mas que a essência seja aquela doce e sorridente, carinhosa e dedicada. Que me ama, incondicionalmente. Espero, sentadinha aqui, cuidando da vida-sem-ela. "Sem mais, a vida vai passando no vazio. Estou com tudo a flutuar no rio, esperando a resposta ao que chamo de amor..."

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Verdi

Everything in the world is a jest.
The man is born as a jester,
His faith is trembling in his heart,
As well as the reason.
We always fool ourselves!
We fool each other.
But who laughs at the final joke
is the one who laughs better.

Tutto nel mondo é burla. L'uom é nato burlone, la fede in cor gli ciurla, gli ciurla la ragione. Tutti gabbati! Irride l'un l'altro ogni mortal. Ma ride ben chi ride la risata final.

sábado, 7 de agosto de 2010

De manhã

É muito cedo quando o meu dia começa a raiar. É ainda escuro quando meu coração acorda. Às vezes, aos sobressaltos, preocupado com isso ou aquilo que eu não posso determinar. Sonhei vários sonhos. Todos com pessoas distantes com as quais eu não falo há alguns dias. Ou mais. Uma cobra com cabeça de cachorro, à beira da morte, me sorria e conversava comigo. Sonhei que tinha amigos que não conheço. Engraçada essa minha coisa de sonhar. Eu só sonho sonhos completamente incompreensíveis. Mas meu coração acordou bem calminho!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Tu tome tento...

Ao som de "Altar Particular"..

Ando me repetindo muito musicalmente. Nunca mais Chico, nunca mais Oswaldo, nunca mais Radiohead, nunca mais Brasov, nunca mais Gogol Bordello, nunca mais John Mayer, nunca mais Vicente Celestino, nunca mais Xangai...

É que tem épocas que a gente se engancha em cada coisa que não vale a pena...

Mas música sempre vale a pena, mesmo que repetida.

Que nem livros. Não tenho muita paciência pra repetir livros que já li. Mas como ando sem novos, ando me repetindo nos mesmos.

Queria Budoswski, meu velho safado, mas não acho em lugar algum. Queria Caio Fernando, também. E Sylvia Plath. Mas é difícil achar o que eu gosto em prateleiras repletas de best sellers.

Hoje cedo estava pensando numas conversas que andei tendo com uma figurinha. E ri quando disse que perdi tempo lendo "Quem mexeu no meu Queijo?", mal escrito, mal diagramado, mal revisado, cheio de erros e de um tipo de raciocínio que o mais novo dos meus sobrinhos seria capaz de desenvolver.

É, a inteligência é genética. A burrice também. Mas aqui em casa só tem geniozinho.

Não tinha nada a dizer, percebe-se.

Então vou ali cantar 'altar particular' no chuveiro...

Gente que não merece meu respeito:

... gente que fala do que não sabe.
... que diz de cara que não dá.
... homem que fala fino.
... mulher que fala em falsete.
... advogados em geral.

Nada me incomoda...

Então minha veia verborrágica por escrito está sem nada a dizer.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

My Orkut Profile - 1st register

Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis."

Tenho lido muito Caio Fernando. Sem nenhuma razão específica. É que sou de fases, como a lua. Li muito Saramago há algum tempo atrás, li muito Kafka depois, li muita revistinha em quadrinho.

O Caio Fernando tem despertado em mim uma hiperconsciência das coisas, uma sensação de supraperpepção, como se, de repente, eu soubesse de tudo que sinto, de tudo que sou, de tudo que fui e como cheguei até aqui.

Uma vontade de escrever também. Se bem que escrevo muito, sobretudo quando algo me incomoda. Mas é uma vontade estranha de amar, sabe? De ser amada, de abrir os braços e sentir o vento no peito, de respirar, de ver o céu azul, de - de repente - usufruir de todas as coisas que eu deixei passar durante tanto tempo, porque estava ocupada com coisas mais sérias e importantes.

Fiquei pensando nele, hoje de manhã, enquanto vinha pra o trabalho. Num dos textos, e em vários, ele fala do quanto teme a solidão, do quanto anseia conhecer o amor, a amizade, aqueles que fazem a vida valer a pena. E eu percebi que sei exatamente o que ele está falando.

É, porque, querendo ou não, a gente vive exatamente em função de encontrar aquilo que faz a vida valer a pena. A gente vive à espera de poder cantar abraçado na beira do mar: 'É isso aí, como a gente achou que ia ser, a vida tão simples é boa quase sempre...' Vive, sim. E eu também. Não é aquilo em que eu mais penso, mas é aquilo que mais me move.

E eu, que alardeio tanto que vivo pra mim, me pego pensando que vivo tentando me melhorar, crescer espiritual, profissional, intelectualmente, me melhorar físicamente, pra deixar 'a mesa posta, a casa limpa e cada coisa em seu lugar', como bem Caio citou Bandeira. E como ele bem disse, esperando a Desejada das gentes, e não a Indesejada. Eu anseio pela vida, e não pela morte.

Admito. Estou cheia de planos. Quero realizar tudo que eu quis desde que era uma menina. Quero retomar meu lugar dentro de mim, minhas rédeas, viajar, fazer alguma coisa muito bem feita, ser uma excelente profissional diplomada, pós-diplomada, falar mais de uma língua, cantar no chuveiro, me sentir bem comigo, me sentir bem com meu corpo, com a minha alma, ter um mundo vasto de cultura dentro de mim, conversar sobre qualquer coisa, desde novela a futebol, passando pela cultura afegã. Quero ter o sorriso mais bonito e mais sincero, o olhar mais carinhoso, dizer o que penso e o que sinto sem receio de magoar, de invadir, de ser magoada, de ser invadida.Quero meu canto, quero meu lar, quero minha sala e um violão, ainda que eu não saiba tocar. Quero meus amigos, meus discos, meus filmes, meus livros.

Quero ir embora daqui, caminhar de manhã no Leblon, esbarrar com o Chico Buarque.

Mas de tudo o que eu quero, o que eu mais quero é ser um presente, e dar esse presente a alguém, alguém que o mereça muito, que saiba o exato valor, nem menos nem mais e que leve consigo, como um amuleto, pra onde for, com filhos, e sorrisos, e nada mais.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Overdose

Só pra enfiar mais fundo o dedo em qualquer coração desapercebido:

"O melhor a fazer é deixar “lavrado o campo, a casa limpa, a mesa posta, com cada coisa em seu lugar”, como disse o poeta. E mesmo assim, talvez eu continue a fazer as refeições sozinho durante toda a vida.

(...)

E vivo a lavrar o campo, a limpar a casa, a colocar as coisas nos seus lugares certos; só que o que eu espero é a Desejada, não a Indesejada. Eu espero a Vida, não a Morte. Não sei se ela virá. E não sei se apenas por estar dentro dela, isso significa que ela esteja em nós, em mim."


Só pra constar: o poeta, Manuel, escreveu:

"Quando a indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar."

Compartilhando meu amor...

Compartilho, porque não sou egoísta. Falo dos meus amores abertamente, porque tenho orgulho de amá-los. E esse, ainda mais:

"Ontem isso quase aconteceu. Foi na hora que a chuva parou, à tardinha. De repente parei de ler o livro que tinha nas mãos e senti vontade de me aproximar da janela. Vi então as árvores da praça, ainda pesadas de gotas d’água, vi o asfalto que parecia novo, o céu lavado, algumas pessoas ainda com guarda-chuva, um arco-íris lá no fundo, atrás dos morros. O sol estava se pondo também, e embora eu não pudesse vê-lo, enxergava os caminhos coloridos que seus raios pintavam nas paredes dos edifícios. E — de repente — senti. Estava tudo muito bonito, e muitas vezes eu choro quando tudo está assim, bonito. Mas não foi isso.
Comecei a olhar as coisas desde os detalhes da janela até lá onde estava o arco-íris. Olhei o vidro quebrado, o carros estacionados lá embaixo, o asfalto, as pessoas, as árvores, a praça — meu olhar subindo cada vez mais. À medida que subia, eu ia esquecendo de meu corpo, esquecendo de mim. Quando olhei o arco-íris, me desprendi quase totalmente. Não adianta, não, sei explicar. As palavras traem o que a gente sente. Mas sei que, por um instante, quase senti. (...)
Acho que o fato de ser só é inevitável, independe de fatos externos. Há pessoas que nascem para serem sós a vida inteira. Eu, por exemplo. Acho que mesmo que um dia case e tenha uns dez filhos (coisa que não me atrai nem um pouco, diga-se de passagem), ou mesmo que consiga encontrar a amizade que sonho — e de cuja existência a cada dia mais e mais duvido — acho que mesmo que aconteçam essas coisas, continuarei só. Claro que há a minha própria companhia, este diário, o livro que leio, as drogas que escrevo de vez em quando — mas tudo como que circunscrito a um círculo completamente fechado. Freqüentemente me assusto, pensando que a vida vai acabar sem que eu encontre um grande amor ou uma grande amizade, ou mesmo uma grande vocação que justifique esse isolamento. Mas nada posso fazer, estas coisas acontecem sem que a gente a procure. O melhor a fazer é deixar “lavrado o campo, a casa limpa, a mesa posta, com cada coisa em seu lugar”, como disse o poeta. E mesmo assim, talvez eu continue a fazer as refeições sozinho durante toda a vida.
Muitas vezes tentei dizer essas coisas às pessoas. É tão difícil. Se elas são adultas, o que fazem é sorrir meio de lado, como quem diz: “Mas isso faz parte do jogo.” E se são da minha idade, me olham com um olhar onde se reflete o meu próprio desamparo, dizendo palavras que a minha voz também poderia pronunciar. É assim com Marlene. Foi assim com Bruno. Só agora eu sinto que a minhas asas eram maiores que as dele, e que ele se contentava com o ares baixos: eu queria grandes espaço, amplitudes azuis onde meus olhos pudessem se perder e meu corpo pudesse se espojar sem medo nenhum. Queria e quero — ainda. Voar junto com alguém, não sozinho. Mas todos me parecem tão fracos, tão assustados e incapazes de ir muito longe. Talvez eu me engane, e minhas asas sejam bem mais frágeis que meu ímpeto. Mas se forem como imagino, talvez esteja fadado à solidão.
Quando escrevo poesia, é sobre isso que escrevo: o medo da solidão como sina. E vivo a lavrar o campo, a limpar a casa, a colocar as coisas nos seus lugares certos; só que o que eu espero é a Desejada, não a Indesejada. Eu espero a Vida, não a Morte. Não sei se ela virá. E não sei se apenas por estar dentro dela, isso significa que ela esteja em nós, em mim."

terça-feira, 3 de agosto de 2010

"Fico vivendo uma vida toda pra dentro, lendo, escrevendo, ouvindo música o tempo todo."

E se eu tivesse um blog onde só escrevesse Caio Fernando, ainda assim, seria tudo eu...

"Menos pela cicatriz deixada, uma feridantiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva."

"E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo (...) que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era."

"Não choro mais. Na verdade, nem sequer entendo porque digo mais, se não estpu certo se alguma vez chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor. Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora."

"e desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez."

"Quando partiu, levava as mãos no bolso, a cabeça erguida. Não olhava para trás, porque olhar para trás era uma maneira de ficar num pedaço qualquer para partir incompleto, ficado em meio para trás. Não olhava, pois, e, pois não ficava. Completo, partiu."

"Acho que sou bastante forte para sair de todas as situações em que entrei, embora tenha sido suficientemente fraco para entrar."

"Tô exausto de construir e demolir fantasias. Não quero me encantar com ninguém."

"Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem".

"Seria tão bom se pudéssemos nos relacionar sem que nenhum dos dois esperasse absolutamente nada, mas infelizmente nós, a gente, as pessoas, têm, temos - emoções."

Lunch Time

Procurando poesia em pé de estrada
Em pé sujo de poeira
Em nascente de rio, deitada de lado, em cabelos ao vento.
Numa rede na varanda.

Procurando poesia em sono de tarde,
em dormir junto na rede,
em encher de almofadas o chão e ver TV.

Procurando poesia em viver abertamente
Tranquilamente e sem jogos
Sem vícios amargos e sem virtudes intocáveis.

Procurando poesia em trabalho
Chegar em casa cansada, ao fim do dia,
tomar um banho e conversar.
Em ouvir e falar.

Procurando poesia em uma caminhada na serra
Em um fim de semana na praia.
Em filhos correndo na areia.
Em crianças sorrindo em qualquer lugar.

Procurando poesia em dormir agarrados e suados,
Em se conhecer, se repetir,
sem receios, sem demora, sem lentidão,
Em calar e sentir.

Toda a minha poesia é rasteira.
É onde eu a acho.

Indicação?

Indicaram meu outro blog - que agora é um despejo de entulhos verbais escritos não-comestíveis e impublicáveis - a um prêmio não sei das quantas, não sei de quem, não sei de onde. Não sei por quê.

Também não sei pra que.

Eterna Ressaca (título-homenagem ao meu querido bode abstinente...)

Confissão I


Sua vertente alcoolatra realmente está assumindo o posto - digo, como quando um bi vai tendendo descaradamente ao homossexual - quando é terça e você acorda em plena madrugada, depois de ter ido dormir altinha - algo entre um eufemismo e uma meio-literalidade - vendo Bastardos Inglórios no computador - sem entretanto conseguir evoluir, ou seja: você acabou mesmo vendo só o que você já tinha visto (sendo que você recomeçou de onde havia parado) - e acorda às duas... digo, às três... digo, às quatro... com um gosto horrível de cabo de guarda-chuva na boca - que só a antarctica sabe deixar -, toma um sal de andrews e vem ao computador, escrever um texto totalmente incompreensível - exceto aos alcóolatras - e cheio de excertos de si próprio - em itálico, pra diferenciar mais - sobre o gosto de cabo de guarda-chuva na sua boca.

Sim, era tudo pra falar do cabo do guarda-chuva.

E não me venham com comparações fálicas, porque - merde, alors - vamos ser tortos, mas assim, também não.

Confissão II

O caso é que, além de acordar com essa sensação deliciosa que permeia e faz arder todo meu sistema digestório, da faringe ao estômago, revirando até o esôfago, eu acordei com o corpo em polvorosa... ardendo, queimando... pedindo desesperadamente que eu tomasse uma atitude drástica sobre isso.

Vocês sabem do que é que estou falando... Sabem sim! Não se façam de rogados. Duvido que eu seja a única a passar por isso... Du-vi-dê-ó-do!

Aquela sensação que vem de súbito, um calor que sobe pela coluna, arrepiam-se todos os poros e você só consegue pensar: tenho que... tenho que... preciso... preciso...

E o sono entra em desespero, reclamando sua hora. E você se abraça arraigado a ele, agarrando o travesseiro, mordendo o travesseiro, querendo não se mover de onde está, não se virar, não se contorcer na cama - no meu caso, na rede - e atender aos apelos desesperados do seu corpo, que pede, que geme, que grita, que urge por uma solução.

Isso... Aquela solução solitária que corta as nossas madrugadas. Que nos faz, forçosamente - não deliberadamente - implorar por um movimento extremo, em prol de sossegar o apelo que faz o corpo queimar, das entranhas até o cérebro, que vem de baixo e sobe pelos quadris, vem pela barriga, arrepiando, contorce-lhe o corpo e arrepia a nuca.

Não dá mais, não dá. O sono já foi. O sossego da madrugada já foi rompido. Você tem que...




Você se levanta, e vai ter que ir ao banheiro... Porque definitivamente, aquela carne de sol acebolada com macaxeira não lhe caiu nada, nada, nada, nada bem...

Foi o que me aconteceu.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Amar é...



É interessante perceber a importância de algumas pessoas ímpares na nossa vida.
Conversando pelo skype hoje cedo com a Lê, quando deveria estar trabalhando (mas eu estava...), vejo que é bom ter pessoas a quem amamos, e que nos amam, independente de toda nossa confusão mental, física, química, matemática, fisiológica e ambiental.

Percebi, por ver o quanto a quero bem, como é bom tê-la na minha vida.

Já tivemos - e temos - nossos momentos de estranheza e distância. Há, claro, pontos em que não nos acordamos por nada no mundo.

Mas, de fato, ela sempre está lá. E eu sempre estou, também.
Depois de um fim de semana meio infernal, é bom saber que não sou a única.

Aliás, não somos. Acho até que somos as três mosqueteiras. O Bode pode até ser o Dartagnan, embora ele tenha uma cara de puto mesmo.

Porque é com uma cara de pau incondicional que nos admitimos uma perante a outra.
É pra elas que eu me permito chorar pelo que quer que me incomode.

Não minha mãe, não meu pai.

Juntas, nos esforçamos por afogar as mágoas (que usam bóias, as malditas). Juntas rimos, choramos, bebemos, conversamos, brigamos.

Há mais que elas duas na minha vida, de fato. Há bem mais. Há um pequeno e seleto mundo de gente que eu guardo comigo e guardarei por onde for.
Lucianas, Alines, Gigis... Há minha listinha de pessoas prediletas.

Mas, de toda forma, é fundamental tê-las comigo. Compartilhar as coisas mais absurdamente íntimas. As mais idiotamente ridículas, que não vale a pena contar pra ninguém. Elas adoram ouvir.

Eis que, no meu pequeno rascunho de planos, na minha rude arquitetura de sonhos, em que planejo quais meus passos até o final do ano, que planejo como vou conseguir o que almejo, risco nomes e escrevo outros, risco risos, escrevo lágrimas, risco lágrimas, escrevo risos, na minha rabiscada agenda de como vou conseguir escolher (finalmente) o que quero ser da vida, onde quero trabalhar, que horas vou malhar, em que praça vou sentar vendo mudas de amendoeiras, quando vou tirar minha habilitação, quando vou comprar uma motoca pra ir à praia, quantas vezes vou ao cinema, ao teatro, como vou retomar o curso de inglês, e começar o de francês, em que novos sonhos eu vou ingresssar....

Eis que me deparo com a patente verdade: Elas estão comigo. Como o Zeca Baleiro bem me diz:

"Você vai comigo aonde eu for, você vai bem, se vem comigo.
Serei teu amigo e teu bem; fica bem, mas fica só comigo."