sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Procv

Pensando com a pontinha dos dedos. Lendo limite branco, me dei conta que eu também espero. Na fila do pão, andando na rua, esbarrando em alguém. Eu também procuro, nessa maneira estranha de parecer, sobretudo a mim mesma, não precisar de ninguém e nada que me complete. Dei-me conta, Caio: " Quando escrevo poesia, é sobre isso que escrevo: o medo da solidão como sina. E vivo a lavrar o campo, a limpar a casa, a colocar as coisas nos seus lugares certos; só que o que eu espero é a Desejada, não a Indesejada. Eu espero a Vida, não a Morte. Não sei se ela virá. E não sei se apenas por estar dentro dela, isso significa que ela esteja em nós, em mim. (...) Gostaria de fazê-la sentir (e não só ela, mais todo mundo) que não preciso de ninguém. Mas não adianta: um dos meu males é ter medo de magoar as pessoas. Não precisar de ninguém... E há pouco me queixava de solidão. Eu não me entendo mesmo. Cansei de ficar escrevendo. Tem um sol muito bonito lá fora. Queria aproveitá-lo junto com alguém. Como esse alguém não existe, vou ter que aproveitar sozinho. Vou até a minha praça, na beira do rio. Ver o pôr-do-sol e, por um segundo, sentir uma alegria enorme. Depois, uma espécie de medo sem pergunta e a tristeza crescendo fazendo nascer a vontade de morrer. Ou de viver ainda mais, com muito mais intensidade." Alguém pode me presentear com um livro de Caio Fernando? Poderia ser Morangos Mofados. É, poderia. Eu já me dei Rubem Fonseca esse ano. Já me dei Saramago e Chico. Queria dar-me Bukowski, mas não o encontro em lugar algum. Velho Safado. Queria me dar alguém também, alguém que decerto não quer se ser me dado. Deu pra entender? Mas tudo bem, estou a ver correr o rio. Não passivamente, sabe? Porque até a música-tema da novela das seis sabe que nada muda se você não mudar. Estou definitivamente disposta a dar um passo quilometricamente maior que minhas pernas por um último apelo do meu apego que não vai embora. E nem alimentado ele está, estranha coisa. Estranha experiência essa... Então, momento de concatenar a vida, sabe? De reunir tudo que precisa ser reunido. Todos os aspectos da minha vida e pô-los para conversar, como numa terapia de casal, só que sozinho. Tramar o futuro, esquecer o passado. Someente o que deve ser esquecido. Somente o que falhou. Há algo bom que ainda não feneceu. E é nesse algo que me agarro. Deve ser esse o apego arraigado que mora no meu peito. Dândi, dândi. Só enxerga a si e se acha lindo. Mas deixa estar, morena, que amanhã é sábado, dia de sol e você vai respirar. Vai pro samba e assim, entre uma caipiruva e um sambinha, talvez pense melhor e resolva conseguir esquecê-lo. Ou talvez resolva-se a roubá-lo de vez.

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