sexta-feira, 19 de novembro de 2010

"Que friagem nenhuma encabule o meu calor mais bonito." Algo assim. Ontem eu fui pegar um ônibus ali longe, porque queria caminhar e ir fumando um pensamento. Caminhei devagar pela rua, depois de passar na loteria e fazer pagamentos. Eu não costumo ter religião, sabe, mas eu gosto de passar em praças com Igrejas. Ou Igrejas sem praças mesmo. Tenho uma sensação de quando eu era pré-adolescente e fazia eucaristia. Eu me sentia num lugar santo ali. As árvores eram mais bonitas, as cabaceiras tinham uns cipós engraçados e, óbvio, cabaças penduradas, verdinhas como melancias, mas que eu nunca sabia o que eram, de fato. Elas ficavam em canteiros grandes, quadrados, pelo pátio interno, que era chamado de Salão Paroquial, e onde comumente a gente se sentava pra conversar. E era tão acolhedor, tão mais acolhedor que a própria igreja em si, que era dali que eu gostava de assistir à missa. Foi a única coisa que me restou das práticas católicas. Como o cheiro de orvalho de manhãs no quintal. Então, acho que, intimamente, quando eu passo por uma Igreja, eu me sinto ali, sentada dos canteiros, com meus sonhos e a minha visãozinha inocente de que o mundo era perfeito. Chguei ao ponto. Sentei-me lá, no escuro, só, esperando o ônibus; não era tão acolhedor, não, e eu estava com medo de assalto. Mas me perdi um pouco pensando no que está porvir. As mudanças, tudo que preciso resolver com elas. Tudo que pode ser mas ainda não tem data para ser definido. E o que já tem, e o que já está. Foi então que eu me dei conta de como tenho sorte na vida. Sorte, e não estou falando de filhos feitos de amor. Não sei, mas suspeito que a gente colhe mesmo o que planta. Suspeito que eu me tornei uma pessoa muito melhor depois da queda, embora o levantar-me tenha demorado tanto a começar. Mas o fato é que aconteceu. E eu me sinto vivendo em um outro mundo. Acho que minha inteligência emocional demorou tanto a acompanhar as outras, mas finalmente ela cresceu. E de repente, me olhando assim, eu vejo a criança plena brincando. Vejo a cor das cabaças, e acho o mundo lindo. O mundo é perfeito.

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